O assunto não poderia ser outro: a Reforma da Previdência. Não vou tratar da proposta em si, mas discuti-la em um contexto mais amplo, sem rodeios e com o objetivo único de fazê-lo despertar para o que interessa.
Atenção aqui: contribuindo por mais tempo ou não, a verdade inconveniente é que a aposentadoria do INSS não será suficiente para manter o seu padrão de vida (ainda que você contribua para receber o teto). Releia este parágrafo antes de continuar.
“Então não vai adiantar nada ter INSS?”, você pode estar se perguntando. Toda e qualquer quantia, ainda mais quando se trata de um direito, é fundamental e importante, mas a discussão precisa sair do “O que estão fazendo com minha aposentadoria?” para o que “O que eu posso fazer para melhorar minha aposentadoria?”.
Outro aspecto importante desta discussão e que pouco se tem falado diz respeito ao cenário sem reforma alguma e do Brasil como ele realmente é. A alternativa a tantas importantes reformas (a da Previdência é uma delas, mas há a trabalhista, a tributária e etc.) sempre é a mais direta e prejudicial possível, de diversas formas: mais imposto.
Você conhece o Brasil real?
Há mais processos trabalhistas no Brasil do que a soma de todos os processos semelhantes no mundo. Em outras palavras, nenhum país do mundo cobra tantos impostos sobre o trabalho. Ainda assim, uma reforma trabalhista que mudasse estes “direitos” seria veementemente combatida.
Temos por aqui o pior retorno em impostos de todos os 30 países mais ricos do mundo. Traduzindo: cobramos mais e oferecemos menos do que qualquer outro.
Ainda assim, nenhuma reforma tributária avança no país há pelo menos 30 anos e, ironicamente, todas as contrapropostas incluem aumentos de impostos.
A aposentadoria do brasileiro chega mais cedo do que em qualquer país da OCDE. Não bastasse essa constatação, o que isso significa é que gastamos duas vezes mais com idosos do que com a educação de todos os nossos jovens. Faz sentido? Sem julgamentos, ok?
Um dado interessante e que talvez você não conheça: os 20% mais ricos do país se aposentam em média 7 anos antes e ganhando três vezes mais do que os 50% mais pobres.
Ainda assim, uma reforma previdenciária que mude todo este quadro esta sendo veementemente combatida. E em nome dos mais pobres, o que é típico de nossos políticos. Na prática, só o que vejo é negação e mimimi por todos os lados.
Seu futuro está condenado, a não ser que você faça alguma coisa agora
Se a reforma da previdência não passar, estaremos todos ferrados; se ela passar cheia de agrados daqui e de lá, para esse e aquele grupo (como anda acontecendo), estaremos todos ferrados; se não fizermos nada, estaremos todos ferrados.
A minha sugestão para você é simples: pare de discutir quem merece ou não se aposentar antes, depois, primeiro, mais novo ou mais velho e faça uma previdência complementar. Invista por conta própria em seu futuro e não dependa do INSS.
Acredite em mim: a conta não fecha de jeito nenhum, e como a coisa está indo, menos ainda. A solução será aumentar impostos (pois é, ainda mais), então é bom você ter um bom planejamento financeiro e patrimônio porque as coisas ficarão ainda mais caras, o padrão de vida cairá e o emprego vai desaparecer.
Na dúvida, pule fora das discussões sobre a reforma nas redes sociais e use todo o tempo que gastaria lendo e comentando bobagens para aprender sobre investimentos para o futuro. E faça-os o quanto antes, e de forma constante e disciplinada.
Ao final, se você cumprir seu dever de criar o próprio futuro e uma intervenção extraterrestre resolver a questão do INSS, você terá duas fontes de renda consideráveis (seu patrimônio e a previdência social). Se nem os ETs acharem graça na gente, você ainda terá qualidade de vida e dinheiro.
Mas nem todo brasileiro consegue investir, não é mesmo?
Um amigo, Maximiliano, levantou uma questão importante sobre os brasileiros: “Só tem um detalhe, o cidadão comum, representado pela imensa maioria da nossa população, não consegue nem o suficiente para sobreviver. Será bem difícil guardar algum dinheiro hoje em dia. Concordo 100% com seu pensamento, mas ‘na pratica, a teoria é outra’”.
Outro amigo, Rafael, disse ainda: “Pena que para a maioria massiva dos brasileiros a ideia de guardar dinheiro seja uma piada de mal gosto. Mal sobra para comprar comida. São os políticos e nós na internet (dois grupos privilegiados) falando por aqueles que mal tem saneamento básico. E parece que vai se formar um acordo para manter privilégios em detrimento dos que mais precisam”.
É verdade que ter as condições ideais de poupar e investir não é algo que faz parte da realidade da maioria, mas também temos que admitir que muita gente deposita na aposentadoria oficial uma esperança infundada.
Eu prefiro dizer para estas pessoas que é melhor ralarem muito antes da aposentadoria, trabalhando mais e buscando outras fontes de renda do que depois se aposentarem e chegarem à conclusão de que não adiantou nada e terem que voltar a ralar “P da vida”.
Sim, ambos têm razão sobre a dificuldade de apenas sobreviver, mas acredito que todo esforço vale a pena para ter dignidade em uma das fases mais complicadas e caras da vida.
Felizmente, não estou apenas sonhando. Perto de mim estão pessoas que ganham salário mínimo, possuem ao mínimo mais duas atividades além do emprego e cujas famílias constroem casas para alugar em terrenos que compram na periferia.
Todos os filhos trabalham e colaboram com o projeto da família, comprometendo seu tempo e dinheiro. Eles passam um tempão economizando, vivendo de forma muito simples, então compram um terreno pequeno e aos fins de semana levantam uma casinha também simples. E alugam.
A vida destas pessoas é difícil, ralada, quase sem tempo para qualquer coisa que não seja trabalho, mas aqui neste país o futuro só se resolve assim. Infelizmente. Portanto, concordo com os amigos sobre a situação da maioria, mas as únicas variáveis que podemos controlar agora são a nossa energia e disposição: há que tentar e lutar.
Conclusão
Não investir no seu futuro e ainda por cima não aceitar a importância da reforma da previdência é ser ingênuo, para dizer o mínimo. Na lata, é ser irresponsável e fanfarrão. Não é de hoje que sabemos que a aposentadoria dos trabalhadores (de verdade) não dá conta do padrão de vida. Nunca deu.
Nossa capacidade de honrar compromissos enquanto país é proporcional à nossa capacidade de criar oportunidades enquanto cidadãos. Você confiaria o seu futuro ao seu vizinho? Eu não. Definitivamente não. Se você também está nessa, pratique a educação financeira. Ela é a única saída. Sempre foi e sempre será.
(Fonte: Dinheirama)
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