A teoria da seletividade socioemocional surgiu em 1991, quando foi desenvolvida pela pesquisadora e psicóloga norte-americana Laura Carstensen. A partir de estudos sobre o comportamento social e emocional no processo de envelhecimento, Carstensen observou que, após os 60 anos, as pessoas tendem a mudar seus hábitos e padrões de relacionamento anteriores. Segundo a pesquisadora, a velhice provoca uma redistribuição de recursos emocionais.
Em outras palavras, os mais velhos deixam de investir em quantidade para priorizar a qualidade de suas relações. Essa mudança de atitude se reflete no relacionamento que os idosos estabelecem com os círculos sociais, com a comunidade e com o ambiente ao redor. No entanto, segundo a pesquisadora, os novos hábitos de seletividade socioemocional não necessariamente implicam perdas físicas, sociais e emocionais – ao contrário, podem resultar em benefícios para o estilo de vida.
A teoria da seletividade socioemocional defende que os mais velhos reduzem sua rede de relacionamentos porque dão prioridade a relações saudáveis, que ofereçam a eles conforto e segurança emocional. Diferentemente dos jovens, que tendem a privilegiar variedade em vez de qualidade nas relações, os idosos fazem uma seleção ativa de seus contatos, descartando relacionamentos irrelevantes ou prejudiciais ao seu bem-estar.
A teoria da seletividade socioemocional foi corroborada por um estudo publicado na revista Science e conduzido por uma equipe de psicólogos e primatologistas do Departamento de Biologia Evolutiva Humana da Universidade de Harvard. A pesquisa revela que a seletividade socioemocional não é exclusividade dos seres humanos: os chimpanzés, um de nossos parentes vivos mais próximos na história da evolução, também apresentam comportamento seletivo nas relações quando chegam à velhice. Essa descoberta pode contribuir no desenvolvimento de novas estratégias de promoção e incentivo ao envelhecimento saudável.
Teoria da seletividade socioemocional e envelhecimento ativo
A seletividade emocional pode contribuir muito para um processo de envelhecimento saudável. Na velhice, a percepção de prioridades, sistemas de valores, saúde e bem-estar passa a se adaptar às condições dessa nova fase da vida. Por isso, ações que favoreçam o envelhecimento ativo em um contexto social mais amplo são importantes e necessárias.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define o envelhecimento ativo como “o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas”. O conceito abrange saúde física. relações sociais, estado psicológico e outros fatores que contribuem para oferecer plenas condições de desenvolvimento à pessoa idosa. Nesse sentido, fazer parte de uma comunidade que inclua os mais velhos e promova seu bem-estar é fundamental.
A seletividade emocional leva a pessoa idosa a buscar participação ativa e de qualidade nos seus círculos de convivência. Por isso, pode ser um facilitador no processo de envelhecimento saudável. Enquanto a seletividade emocional atua como uma ferramenta quase intuitiva na busca do idoso por um novo estilo de vida, segundo a teoria de Laura Carstensen, o envelhecimento ativo deve ser incentivado pela comunidade – e os dois devem caminhar juntos, numa relação de sinergia.
Envelhecimento sustentável: é possível?
De acordo com a teoria da seletividade socioemocional, à medida que envelhece o indivíduo tende a reformular seus hábitos e relações sociais para encaixá-los em uma nova realidade, na busca por conforto e bem-estar. As prioridades mudam – e o estilo de vida também! Maior preocupação com a saúde e envolvimento em questões da comunidade podem levar as pessoas a envelhecerem com mais consciência de si e do meio ambiente.
Boas condições de saúde mental e física, bem como o convívio em um ambiente que promova seu desenvolvimento social e intelectual, encorajam o idoso a se envolver em atividades que elevem ainda mais sua qualidade de vida. Além disso, um envelhecimento saudável e ativo ajuda a incentivar a adoção de hábitos benéficos para a comunidade e o planeta. Atividades físicas, passeios ao ar livre e ações que contribuam para o bem-estar coletivo, por exemplo, podem e devem fazer parte desse processo.
Para isso, é necessário que haja um envolvimento da sociedade no geral, aliado à criação de políticas públicas, com as necessidades da pessoa idosa. Mais estudos sobre a teoria da seletividade emocional também podem servir como base de sustentação para que pensemos em novas maneiras de incluir a pessoa idosa em todas as esferas da sociedade e garantir a ela condições plenas de vida. O envelhecimento é uma pauta de interesse coletivo, afinal, todos passaremos por isso. E envelhecer bem é possível: bastam pequenos esforços.
(Fonte: Ecycle)
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