Gastar ou guardar, eis a questão. E agora? Calma. O oposto de guardar não é gastar, não é tão simples assim. Não pode ser. Educação financeira não se resume a ser o Tio Patinhas ou simplesmente viver pagando boletos.
Como ficam o desejo e a realização pessoal diante da falsa dicotomia entre guardar e gastar? Talvez alguém argumente que realização pessoal é egoísmo e que desejo é pecado. É uma opinião que merece respeito, mas que não representa a realidade hoje em dia.
Convenhamos, não estou falando do tipo de desejo que fará você se arrepender amargamente depois (e que pode “fechar” as portas do paraíso) e nem tampouco da realização pessoal que deixa a compaixão de lado.
Educação financeira é também apostar nos raros momentos de felicidade que você e seu próprio planejamento podem oferecer. Dinheiro, neste caso, é essencial como ferramenta de liberdade e suporte.
Gastar faz parte, mas como você faz isso?
As histórias envolvendo educação financeira podem ser inspiradoras, mas também chatas e frustrantes. Vejamos a história do cafezinho, que muita gente usa como exemplo para dizer que pequenos gastos podem ser a ruína do orçamento, mas sem explicar isso direito.
O cafezinho é subjetivo. Parece simples, óbvio até, mas especialistas de diferentes formações simplesmente jogam o exemplo como se bastasse parar de comer um salgado na rua – ou literalmente deixar de lado o cafezinho – para mudar de vez as finanças.
O cafezinho é uma metáfora. O cafezinho é o dinheiro desperdiçado nos pequenos atos cotidianos, muitos deles perpetrados de forma automática. Gastar tantas vezes, mesmo que pouco de cada vez, pode mesmo complicar qualquer situação financeira.
Gastar, no entanto, não pode se tornar um ato condenável porque muito de nossa rotina representa riscos para o orçamento. Existe alegria no que se pode comprar, e muita vida nos pequenos gastos do dia a dia.
Um cafezinho pode ser o único momento de calma em um dia agitado. O encontro com um amigo há tanto tempo sumido pode significar uma hora de alívio. Exemplos assim certamente vão colocar novos gastos em perspectiva, mas eles têm valor. São também uma experiência, uma forma de riqueza pessoal.
O que nos traz para o cerne da discussão quando o assunto é gastar: o problema não é dinheiro em si, mas como você está gastando-o. Pense em:
Prioridade. Tudo que for importante, precisa vir primeiro. E receber mais atenção, energia e dinheiro. Simples assim. Portanto, pare agora mesmo e reavalie como tem passado seus dias e se você está satisfeito(a) com a vida que tem e sua relação com suas prioridades;
Frequência e valor. Quantas vezes você gasta seu dinheiro com a mesma coisa e quanto você gasta com determinado item do orçamento precisam ser foco de atenção. O ponto nunca vai ser deixar de gastar “porque sim”, mas porque existe algum desequilíbrio ou simplesmente não há controle;
Controle. A ferramenta que une os dois raciocínios anteriores e que permite que você se conheça atende pelo nome de controle financeiro. Você terá condições de curtir o cafezinho, viver experiências cotidianas e aplacar a ansiedade com uma bobagem desde que isso não fira sua jornada rumo a suas prioridades de vida e seu orçamento como um todo.
A esta altura você já está mais tranquilo(a) para gastar seu dinheiro como bem entender, não é mesmo? Isso é ótimo, desde que você compreenda que educação financeira é mais do que essa discussão boba entre gastar e guardar.
Guardar é importante, mas por que você faz isso?
Você gasta com o que quiser, mas precisa assumir a responsabilidade pela forma como age e, principalmente, lidar com as consequências de suas escolhas neste sentido. É aqui que o “fantasma do guardar” costuma aparecer para assombrá-lo.
Você já conseguiu criar o hábito de guardar dinheiro? Não? O que falta para isso acontecer? Gastar sem culpa é bom e necessário, mas a contrapartida precisa ser abraçar a educação financeira como um estilo de vida. E guardar dinheiro precisa fazer do pacote.
Não sobra dinheiro, eu sei. Na verdade, sobrar dinheiro não é uma escolha cotidiana. Não é uma prioridade. E aqui é que as coisas ficam sérias: quando você não acha relevante guardar dinheiro para si mesmo no futuro (e seus objetivos), você está irresponsável.
Relaxa, não quero aqui parecer aquele pai ausente que, de repente, resolve dar um baita sermão. O raciocínio que quero que você desenvolva comigo é mais simples. Seu futuro depende das escolhas que você faz agora, no presente. Lidar com isso pode ser desafiador, mas não há escapatória para a realidade.
Pense mais em razões fortes para guardar dinheiro e fazer isso vai ficar mais fácil. Se você tem filhos, sabe que isso funciona; se já se casou, também. Quando temos um motivo elevado para economizar, controlar e planejar as finanças, conseguimos colocar em prática a educação financeira.
Conclusão
É muito mais difícil acreditar no poder da educação financeira quando um especialista tenta tirar da nossa rotina hábitos de vida que nos trazem felicidade, ainda que efêmera. Com a situação da vida por aqui, dependemos dos raros momentos de alegria para ter energia para seguir em frente.
Valorize, isso sim, a importância de aprender mais sobre sua realidade financeira, mas sem julgamentos precipitados. Você deve rever como você gasta seu dinheiro, mas não necessariamente demonizar o gasto em si, sob pena de tornar-se alguém mais ansioso – o que costuma estourar no orçamento mais cedo ou mais tarde.
Controle melhor seu orçamento, defina limites claros para os gastos mais variáveis e transforme suas prioridades em metas realizáveis. E comece a guardar enquanto ajusta o orçamento, transformando este hábito também em uma prioridade. Vá com calma, dando o primeiro passo. E depois o segundo. Educação financeira é um estilo de vida.
(Fonte: Dinheirama)
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