Isabela Casemiro* completa 50 anos nesta semana e tem uma conquista dupla a ser comemorada: o controle de seu transtorno bipolar e de suas finanças. O caminho até aqui não foi fácil e envolve uma série de quebras de tabus, paciência e persistência.
No caso de Isabela, o tabu é duplo, já que também os transtornos mentais ainda são cheios de estigmas na sociedade. O que nos leva ao “dilema de Tostines”: as dificuldades financeiras podem levar a problemas mentais ou é o contrário? Ambos podem acontecer.
Tabus levam a dificuldades de falar abertamente sobre o tema, o que pode trazer problemas. No caso das finanças, os problemas podem afetar negativamente não só a conta corrente, mas também a saúde mental das pessoas.
Diante da recessão econômica enfrentada pelo mundo, cuidar das suas finanças é também um cuidado com seu bem estar, e o primeiro passo é estar aberto a falar do assunto.
“As pessoas não querem conversar sobre o assunto, nem com os mais próximos da família. Se está em uma situação ruim, não quer pedir ajuda para alguém. Se a situação é boa, tem vergonha de falar de um eventual insucesso com investimento e dinheiro”, resume a educadora financeira e especialista em finanças pessoais e investimentos da Magnetis, Mariana Congo.
No caso da Isabela, o sofrimento de anos com um transtorno bipolar não diagnosticado levou a compulsão por compras.
Se para Isabela o problema psicológico foi o estopim para uma série de problemas financeiros. O contrário também é muito presente.
Quando a pandemia ainda estava começando no Brasil, em março, uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) apontou que 8 em cada 10 inadimplentes (82,2%) afirmaram ter sofrido com algum tipo de sentimento negativo ao descobrir que estavam endividados.
O mais citado foi a ansiedade, que atingiu 6 em cada 10 entrevistados (63,5%). Não muito longe em termos de proporção, quem ficou com o “nome sujo” demonstrou episódios de estresse e irritação (58,3%), tristeza e desânimo (56,2%), angústia (55,3%) e vergonha (54,2%). A situação de inadimplência levou 42,8% a relatarem insônia ou excesso de vontade de dormir e 32,3% tiveram alterações no apetite.
Na tentativa de aliviar a ansiedade causada pelas dívidas, 28,2% acabaram em algum vício, como cigarro, bebida ou comida, e 24,7% acabaram comprando mais do que de costume – ou até perdendo o controle do consumo.
Isabela, em seus episódios de mania (fase da bipolaridade que envolve euforia, agitação e mania de grandeza), comprava muito. “Eu ia ao shopping e não interessava o valor, tinha que comprar. Era um prazer muito intenso em comprar, sair com três sacolas. Também comprava muito pela internet e tinha coisa que nem saía do pacote, ficava com etiqueta”, diz.
Ao chegar em casa e ver os itens adquiridos, vinha o arrependimento. “É um prazer imediato muito grande, mas na sequência, quando você chega em casa, vem uma culpa enorme”, conta.
Os efeitos da crise
Pioneira na implantação da psicologia econômica no Brasil, a consultora e professora da área, Vera Rita de Mello Ferreira, destaca que cada pessoa tem uma relação com dinheiro que deriva do caráter e personalidade e sofre influência dos laços familiares, sociais e culturais. Assim, em momentos de crise como a atual, a reação de cada um varia muito.
Há indivíduos que, sabendo que a crise econômica não é uma problema apenas pessoal, mas que outras pessoas também passam por dificuldades, têm seu sofrimento atenuado.
Do outro lado, há quem enxergue a crise generalizada como uma situação sem saída e que o espaço para que se reerguer é menor e que não haverá trabalho para todo mundo, aprofundando o sentimento negativo.
(Fonte: Valor Investe)
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