Cartões de débito e crédito são a forma mais popular de pagamento do mundo desenvolvido, tomando cada vez mais espaço do dinheiro.
Nos EUA, uma pesquisa do Instituto Gallup feita em 2016 mostrou que apenas 24% dos americanos usam notas e moedas para pagar pela maioria de seus gastos.
No Reino Unido, pagamentos com cartão superaram os feitos em espécie há pelo menos três anos. A Suécia é um caso extremo: apenas 1% dos pagamentos foram realizados da forma tradicional (com papel ou moedas).
Analistas afirmam que o crescente uso dos cartões se deve, em parte, à popularidade dos pagamentos sem contato, em que as transações são feitas sem necessidade de digitar senhas.
Mas essa tecnologia, bem como outras formas de pagamento, como o Apple Pay e o Android Pay, que permitem pagamentos com o uso do celular, são apenas a ponta do iceberg. O que realmente revolucionou o uso de cartões foi uma invenção muito mais antiga: a fita magnética.
Uso complicado
Antes de Forrest Parry inventar o cartão com fita magnética, em 1960, o uso de cartões de crédito era complicado. O conceito nascera dez anos antes, graças aos também americanos Frank McNamara e Ralph Schneider, fundadores da primeira empresa de cartões do mundo, o Diners Club.
McNamara criou os cartões quase por acidente. Pelo menos de acordo com o site da companhia. “Tudo começou com uma carteira esquecida”, explica um texto no site.
Reza a lenda que McNamara saiu para jantar em Nova York em uma noite de 1949 e, na hora de pagar, teve de chamar a esposa após ter esquecido a carteira em casa.
Pouco depois, voltou ao restaurante (Major’s Cabin Grill) e propôs pagar a conta com um pequeno cartão de papelão –essa “primeira ceia” teria aberto caminho para a multibilionária indústria dos cartões de crédito.
Mas usar cartões exigia muita paciência: o comerciante deveria ligar para o banco, que por sua vez ligava para a companhia de crédito para checar o nome do cliente e o balanço de sua conta.
Por isso, a incorporação da tarja magnética, que permitiu a informatização do sistema, deu um impulso enorme à indústria do crédito, conta Tim Harford, autor da série “50 Coisas que Criaram a Economia Moderna”, da BBC.
Como colar
Mas a invenção de Parry não teria sido possível sem ajuda de sua mulher.
Para entender melhor o porquê, é preciso estudar a história do armazenamento magnético de dados. Ele foi desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial e, nos anos 50, cientistas como o britânico Alan Turing criaram as bases dados computadorizados.
O passo seguinte foi dado pela IBM, que conseguiu codificar a informação para colocá-la em uma fita magnética. Forrest Parry trabalhava em um dos escritórios da empresa no Estado americano de Minnesota, e queria usar essa tecnologia nos cartões.
Só não encontrava maneira de grudá-la ao plástico. Tentou todo o tipo de cola e nenhum funcionou – uns não eram aderentes o suficiente, e a fita se soltava; outros eram corrosivos e danificavam os dados armazenados.
Mas um belo dia, Parry voltou para casa e conversou sobre o problema com a mulher, Dorothea, que estava passando roupas. Foi dela a ideia de derreter a fita sobre o plástico usando o ferro. Eureka! O calor era suficiente para unir os elementos sem danificar a informação.
A incorporação da tarja magnética acelerou enormemente os prazos de transações e abriu caminho para que o cartão de crédito se convertesse na forma favorita de pagamentos de milhares de pessoas em todo o mundo.
O lado negro
Essa história tem, no entanto, um lado negro: muitos estudos comprovam que gastamos muito mais quando podemos pagar com cartão em vez de dinheiro. É o que especialistas em comportamento econômico chamam de gasto sem fricção –psicologicamente, pagar com cartão não “dói” no bolso.
Para complicar, bancos e administradoras de crédito usam táticas agressivas de marketing para arrebanhar clientes. Nos EUA, as dívidas com cartões passaram de US$ 950 bilhões em 2016, segundo o Tesouro americano.
Há quem tema que a tendência seja que isso piore no futuro, quando os cartões forem substituídos por formas mais simples de pagamento. Além de apps para celular, economistas preveem que o futuro próximo terá novidades mais incríveis.
O site CreditCards.com considera provável que, dentro de 50 anos, chips e tarjas serão substituídos por identificação biométrica, um “sistema de identificação 100% à prova de roubos, que poderá até usar o padrão de DNA”.
Especializado na indústria dos cartões, o site prevê que as crianças atuais “poderão nunca usar cartões”.
“Se a tecnologia tornar os cartões obsoletos, estará cumprindo sua missão de facilitar o intercâmbio de bens e serviços e torná-lo mais conveniente”, conclui.
(Fonte: Economia UOL)
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