Apesar de serem potentes contra bactérias causadoras de diversas infecções, os antibióticos sempre foram vistos pela literatura médica como um mal necessário. O próprio desenvolvedor da penicilina, Alexandre Fleming, já havia alertado sobre os problemas da medicação em 1945, quando ganhou o Prêmio Nobel de Medicina. Segundo ele, o uso indiscriminado da droga poderia tornar os micróbios ainda mais poderosos.
Hoje, além de fortalecer as bactérias em alguns casos, os antibióticos também podem interferir na capacidade do organismo de combater uma doença. Pelo menos, essa foi a conclusão de uma pesquisa feita por cientistas da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, e publicada quinta-feira (22) na revista científica “PLos Pathogens”.
Segundo os pesquisadores, as drogas acabam afetando as bactérias comuns que se encontram no intestino. “Os neutrófilos [responsáveis pela defesa do organismo] desempenham um papel importante como uma resposta imune inata quando os agentes patogénicos estrangeiros invadem”, explicou o pesquisador Koji Watanabe.
No entanto, a medicação também enfraquece o sistema imune. “Descobrimos que a interrupção de antibióticos dos micróbios naturais no intestino impediu que isso acontecesse corretamente, deixando o intestino suscetível à infecção grave”, concluiu ele.
Pesquisa
O estudo foi feito quando cientistas estavam se empenhando para entender a função do microbiota intestinal na colite amebiana, doença letal, provocada por um parasita e muito comum em países em desenvolvimento.
Eles analisaram amostras de fezes coletadas de crianças nas favelas urbanas de Dhaka, Bangladesh, e determinaram que as crianças com infecções mais severas tiveram menos diversidade em seu microbiota intestinal.
Para os cientistas, esse resultado se deve ou uso de antibióticos generalizado nos países de baixa e média renda, muitas vezes, com as crianças recebendo mais de duas dúzias de tratamentos antes mesmo de completarem 2 anos.
Em uma segunda etapa, para testar diretamente a relação das drogas com o sistema imune, os cientistas medicaram ratos de laboratórios para determinar como a diminuição da flora intestinal natural pode estar piorando a doença.
Eles descobriram que os antibióticos interromperam os microbiotas intestinais dos camundongos, diminuindo a atividade dos neutrófilos e bloqueando esses importantes glóbulos brancos de responder quando necessário. Isso deixou o intestino insuficientemente protegido. Em resumo, os “guardiões” do intestino não responderam quando foi necessário e os “invasores” puderam circular tranquilamente.
Além disso, a barreira intestinal que protege contra a doença foi comprometida, pois a interrupção do microbiota, causada pelo uso de antibióticos, reduziu a produção de uma proteína celular chave, vital para a eficácia da barreira.
(Fonte: Saude Ig)
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