Taxas de juros, rentabilidade, consumo consciente, endividamento. Esses termos fazem parte da vida adulta e tiram o sono de muita gente, mas as lições podem ser aprendidas ainda na infância para que, no fim, a conta feche no azul e cuidar das finanças não se torne um pesadelo. A educação financeira não é um tema novo para as escolas, mas, com a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), está entre as temáticas que deverão constar nos currículos, ganhando uma importância maior.
“Os preocupantes índices recordes de inadimplência no país refletem a ausência da educação financeira na vida das pessoas ao longo dos anos. Ensinar o tema de forma transversal desde os primeiros anos do Ensino Básico é fundamental para desenvolver novos comportamentos em relação ao dinheiro, uma vez que as crianças absorvem esses ensinamentos com maior facilidade”, avalia Márcia Chavenco, educadora financeira da área pedagógica da DSOP, organização dedicada à disseminação da educação financeira.
Ensinar as crianças também atinge as comunidades, diz ela. Isso porque a garotada leva para casa o que aprende em sala, impactando diretamente nos hábitos dos pais.
Segundo Márcia, o assunto deve ser desenvolvido por meio de oficinas, desafios e atividades que envolvem o cotidiano dos alunos, levando-os a refletir sobre o consumo consciente e sempre tendo como um agente motivador o sonho, que pode ter diferentes prazos, sendo eles individuais ou, então, coletivos.
Desafio
A educadora financeira alerta que o desafio será formar os professores, uma vez que os mesmos não tiveram contato com o tema. “Ensinar uma pessoa que já tem hábitos adquiridos ao longo de anos é muito mais difícil”.
Marcia explica que, durante o curso de educação financeira ministrado pela DSOP, os professores recebem material para iniciar a implantação da metodologia na escola. “Tudo começa com os professores, com as mudanças proporcionando uma melhor qualidade de vida para o corpo docente”, detalha.
Nas salas de aula
Na rede paulista de ensino, a Secretaria de Estado da Educação afirma que a educação financeira é debatida de forma transversal. Com a atualização curricular, será tratada em dois novos componentes nas escolas de anos finais do Ensino Fundamental e nas unidades do Ensino Médio.
A partir de 2020, os estudantes terão aulas de Projeto de Vida, nas quais identificarão seus sonhos e criarão planos para alcançá-los. Entre outros temas, conhecimentos relacionados à educação financeira serão apresentados e aplicados por estudantes nos seus planos de ação para o dia a dia.
Um exemplo prático: um aluno que queira cursar uma faculdade será apoiado no processo de identificar quanto de recurso precisaria para isso e quais são as opções de financiamentos e bolsas, entre outros temas.
Os mesmos conceitos serão usados quando os estudantes forem estimulados a pensar em projetos de intervenção comunitária e precisarem identificar como levantarão e usarão recursos para resolver problemas identificados no entorno da escola.
Pais podem ajudar no dia a dia
Apesar do ensino da educação financeira nas escolas, os pais podem fazer a parte deles em casa e ajudar os filhos a ter uma relação de consumo mais saudável e sustentável, segundo Silvia Baum Ludmer, economista e consultora do programa Vida Investe da Fundação Cesp (Funcesp).
“A educação financeira vai além de analisar quanto ganho e gasto. Tem a ver com o consumo consciente e devemos ensinar isso às crianças. O que elas realmente precisam? O que pode fazer mal ao meio ambiente? Essas são perguntas que temos que fazer para elas”.
Além disso, na opinião de Silvia, é importante que a criança entenda que nem sempre será possível ter o que se quer, na hora em que surge o desejo. Levar os filhos ao mercado, explicar o quanto de dinheiro têm na conta e quais são as necessidades da casa pode ajudar.
Para Silvia, começar com semanadas e depois mesadas é uma maneira de ajudar as crianças a entender o valor do dinheiro. “Combinar como poderão gastar esse dinheiro e ajudá-las a gerenciá-lo é um modo de mostrar que, às vezes, terão que economizar e priorizar o que querem”.
Os cofrinhos podem aparecer quando for preciso explicar que poupar e planejar são ações fundamentais. “Se querem algo caro, deve-se explicar que vão precisar de um tempo juntando dinheiro, economizando em outras coisas”.
(Fonte: A Tribuna)