A atenção ao trabalho de colaboradores endividados pode ser menor em comparação àqueles que possuem as contas pagas em dia. A avaliação é de especialistas em educação financeira ouvidos pelo E-Investidor.
A diferença se deve à preocupação desses profissionais em como quitar as dívidas. E essa angústia pode interferir na produtividade do colaborador e, consequentemente, afetar nos resultados finais das empresas.
Com a atual crise econômica, o sentimento de preocupação com as contas a pagar é ainda mais recorrente no ambiente de trabalho. De acordo com um levantamento sobre finanças pessoais feito pelo Instituto Axxus, empresa de pesquisas qualitativas e estudos de mercado, 86% da renda dos entrevistados foi prejudicada com os efeitos da pandemia. Além disso, o perfil de pessoas “muito endividadas”, que precisam de outras fontes de renda para pagar dívidas, dobrou neste ano.
O cenário traz um alerta para as empresas. Segundo o professor de economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Ricardo Rocha, o desequilíbrio das contas pessoais afeta diretamente a produtividade do colaborador. “O funcionário fica dividido entre as tarefas que precisa cumprir e pensar como irá quitar as dívidas”, explica.
A realidade pode até parecer como um problema individual, mas algumas empresas têm tido bons resultados ao se preocupar com a saúde financeira dos colaboradores. De acordo com a educadora financeira Simone Sgarbi, esse olhar para a realidade dos funcionários pode aumentar em até 43% a produtividade final da companhia e reduzir em até 51% a rotatividade dos cargos. “Quando o funcionário se reorganizar, ele fica livre para focar no trabalho”, afirma.
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Mas o problema com a gestão de finanças pessoais não atinge apenas as famílias com rendas mais baixas. O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e economista Renan Pieri explica que não há um padrão de consumo estabelecido e por isso cada pessoa pode ter gastos que ultrapassam a própria renda.“Não existe uma cesta de consumo única. Agora, é óbvio que é mais fácil você adotar bons padrões financeiros com uma renda mais alta”, destaca.
Em busca da solução
Com esse olhar que a educação financeira pode fazer a diferença para uma empresa, uma fintech no Brasil mudou o formato do seu serviço. Criada em 2020, a Leve iniciou suas atividades fornecendo linhas de crédito para pessoas físicas. No entanto, percebeu que o problema financeiro dos brasileiros não estava relacionado apenas ao acesso a recursos. A gestão da própria renda também era um desafio.
De acordo com uma pesquisa feita pela fintech, cerca de 55% dos trabalhadores gastam tudo ou mais do que recebem. Além disso, 25% têm mais dívidas do que podem pagar. O levantamento ouviu 700 colaboradores de 16 empresas de todo o País. “O estresse financeiro é o precursor de vários problemas”, pontua o CEO da Leve, Gustavo Raposo.
Por isso, desde março deste ano, a startup presta serviço para as empresas com o objetivo de ajudar os funcionários a se organizarem financeiramente. Cerca de mil colaboradores de 20 companhias, como MaxMilhas e Grupo Moura, já foram beneficiados com a consultoria personalizada.
“No lugar de a empresa oferecer cerca de R$ 100 por mês para o funcionário, ela deu um benefício que gerou R$ 100 “a mais” na conta dele. Isso é um ganho super palpável”, explica o CEO da Leve, sobre as economias que os colaboradores conseguem ter com o serviço.
Olhar detalhado para o orçamento
Dívidas com cartão de crédito, gastos com situações de emergência e dificuldades para economizar são os principais problemas apresentados pelos colaboradores para a Leve. Mas para encontrar uma solução para angústia no orçamento, os consultores buscam ter um olhar detalhado sobre os gastos e receita de cada colaborador. Foi desta forma que a jornalista Camila Zanforlin, conseguiu poupar cerca de R$ 2 mil durante o mês de agosto ao detalhar as despesas por categoria.
“Eu estava gastando muito mais do que deveria e a planilha me mostrava onde esses gastos eram mais absurdos. Agora, estabeleci um teto de gasto para cada categoria”, explica Camila como foi o processo de reorganização das finanças pessoais. A frequência das consultas varia de acordo com a necessidade de colaborador para colaborador, mas a média dos encontros é de uma vez por mês.
(Fonte: E Investidor-Estadão)